22 de out. de 2010

Uma questão de posicionamento

         Tenho manifestado meu posicionamento em relação a essas eleições para presidente por outros instrumentos, como o facebook por exemplo. Mas senti a necessidade de me colocar por aqui também, talvez sob forma mais alongada, argumentos de minha vivência, que influenciaram minha formação e minha tomada de decisões quanto a 'de que lado estar' ou porque A e não B.
         De verdade, não tem a ver com esse ou aquele partido ou essa ou aquela pessoa. Essa campanha tem assumido um ranço de  'olha ele, mamãe!...' que realmente desanima.
         Se for observar a influência familiar, eu seria conservadora, daqueles travestidos de social-democratas. Todos são. Sou ovelha vermelha por ali. Princesinha querida, tive bonecas caras, comida na mesa, amor de família, festas de aniversário, aulas de música, ballet, inglês, domésticas a postos prá limpar meu banheiro, etc..
Fato, é que desde sempre tive outra opinião. Outro olhar. Não sei como começou. Talvez por testemunhar o nordestino chegar e se chocar com a cidade na pessoa das domésticas que trabalharam em casa, de hábitos aculturados, sem ler, sem preparo ou referência; encontrar pessoas morando nas ruas (seja qual for o motivo),  isso pode ter acendido o pavio.
         Era antes instintiva, mas desde que pisei pela primeira vez dentro de um barraco de favela, ela, a indignação, se consolidou. E se fortificou com as leituras, debates e aprofundamentos que o estudo e a  a profissão proporcionaram.        
         E em muitas outras ocasiões, como quando entrei em um prédio antigo transformado em cortiço, cheio de ratos que mordiam os dedos das crianças e um banheiro apenas para doze famílias; quando vi morrer na creche uma garota de um ano e meio, por bronco pneumonia que evoluiu, pois a mãe não teve dinheiro prá comprar remédio; mais tarde, quando percorri quilômetros pelo interior de Alagoas para supervisionar salas de aula na zona rural de um município, em que jovens andavam à pé com o lampião na mão para chegar à escola noturna e alfabetizar-se; mesma cidade onde era visível a exploração do povo pelos políticos que construíam com dinheiro público suas mansões revestidas com lajotas e rede nas portas, grandes cisternas, bem ao lado de taperas de pau a pique sem sequer um poço d´água prá beber. Isso que eu relato aqui não era novidade no lugar. Estamos falando de anos e anos de curral eleitoral, de famílias de coronéis que mandam e desmandam pelos recantos desse país. Prá situar no tempo, comecei minha profissão em 1984-85. É só lembrar quem foram os governantes de lá prá cá. Em alguns cantos desse país, a cultura dos Odoricos é tão forte, que nem mais oito anos de Lula iriam resolver.
          Mas, fato é, que ao trabalhar com as camadas sociais menos favorecidas, podemos compreender como pensam, o que sonham. Não posso esquecer o rosto de pais em uma reunião, provocados a pensar em suas vidas, desenhando uma casa para representar seu maior sonho. Para entender esse Brasil, é preciso percorrê-lo à pé, sem guia turístico, entrar nos mercados, beber água barrenta dos açudes (pois é a única que tem prá te oferecer, com carinho), ouvir a banda de pífanos, ver os canaviais imensos pelas estradas e pensar no porque tanta desigualdade social.  E ai, escolher um lado. E foi o que fiz.
          Muito precisa ainda ser realizado. E a opção de um político sempre pesa nas decisões. Trabalho social não é um favor que se presta, mas um obrigação de quem governa. É preciso urgentemente diminuir a desigualdade, a injustiça e a miséria deste nosso Brasil.
          Essa foi a opção - com todos erros e acertos - do governo que agora termina. É preciso continuidade, pois 8 anos não são suficientes prá mudar comportamentos e práticas tão arraigadas há anos e anos. essa é minha opinião.  Se isso é ser de esquerda, então, sempre serei.

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