27 de mar. de 2011

Clic - Mais fotografias perdidas

          Dessa vez a perda foi grande, apesar de às vezes pensar que somos sonhadores demais, querendo que as pessoas vivam eternamente. Algumas deviam sim, estar mais entre nós. Outras entendem bem a mensagem, e sabendo que não duram prá sempre, deixam sua marca em trabalhos, estes sim, esternos.
           Esse é o caso de Thomas Farkas.
"Fotografia, para mim, é o melhor jeito de aproveitar a vida."  Thomaz Farkas, aos 86 anos.
           Havia acabado de inaugurar nova exposição e lançar livro no Instituto Moreira Salles em São Paulo, e nos deixou na última 6ª feira, dia 25.
           Nunca saia de casa sem a máquina, o que me faz pensar também em sua coragem, considerando os dias de hoje. Talvez seja característica de fotógrafos hungaros, como seu compatriota Robert Capa, que  já citei em postagens anteriores. Perguntado sobre isso, Farkas disse que os hungaros falam uma língua complicada, que ninguém entende, e por isso comunicam-se bem por imagens. 
            E como.

A memória e as ondas do mar

Foi sábado. Ao ler as notícias no jornal, topei com uma foto que me marcou e inspirou. Tenho escrito pouco, por pura falta de inspiração, mais que por falta de assunto.
Não encontrei a foto mencionada para publicar aqui, mas essa que ai está traduz o sentimento.


         Pessoas vitimadas pelo tsunami no Japão, têm em uma sala, estendidas em mesas forradas, niponicamente organizados, os álbuns de família encontrados na grande confusão de escombros causados pelas ondas do mar.
Memórias resgatadas.
          Memória é um tema de estudo fértil e bem explorado por diversas áreas das ciências sociais e biológicas. Pode se falar desde os aspectos fisiológicos e o funcionamento neuronal, na medicina, das estratégias para que a memória seja uma função bem utilizada no dia a dia, na psicologia e recentemente com a neurociência, até os aspectos ligados ao social, registro de experiências cotidianas ou institucionais, preservação e patrimônio histórico e geográfico, com as análises da antropologia, sociologia e história.  Em todos esses casos estaremos falando de emoções, vivência e de afetividade.
Ao tentarmos definir memória, segundo o dicionário Aurélio, encontraremos do latim mnemós: a faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos anteriormente adquiridos. Esta sempre será uma forma de gravar, registrar a experiência vivida, como a marca em um bloco de cera, um papel carimbado com a marca própria do significado que aquela vivência assumiu para o indivíduo. Mesmo que muitos a tenham compartilhado, essa marca é pessoal, exclusiva, e é registrada de forma única. E é algo que muitas vezes não é passível de documentação, portanto, pois é sentimento, emoção, subjetividade. Mas as fotos assumem esse papel melhor que qualquer outro documento. 
Aprendemos escutando, imitando, lendo e observando, praticando.  Quando nos recordamos da canção cantada para nós no berço e reconhecemos a voz de nossos familiares, é quando nos percebemos parte de um contexto afetivo, social e cultural, que nos identifica e nos abriga. Quando vemos fotos de nossos momentos e pessoas queridas, resgatamos nossa história. De onde viemos, porque temos essa aparência, que lugares, fatos, eventos nos formaram. Assim, nos tornamos seres humanos.
É por isso tão importante esse resgate. Entre as recomendações e depoimentos de pessoas que tiveram que abandonar suas residências em situações de crise anunciada, está a de recolher além documentos ou bens importantes, as fotos de família.
Sua identidade. O significado de ter sobrevivido. E prosseguir, admirando as ondas do mar.