1 de nov. de 2010

Manifesto

          Preciso me manifestar. Mesmo que digam aqui em casa que ando panfletária. Ora, afinal, não dá prá ficar calada.
          Mulher, ex-guerrilheira, disputando a primeira eleição, séria, inteligente e lider. É prá comemorar.
          Ultrapassar a ignorância da chuva de e-mails preconceituosos, calúnias, mentiras, jogo baixo. Tolerar a fala e a ignorância de quem tem preguiça de ler e se informar sobre os reais progressos que o atual governo tem conseguido. Não é prá qualquer um.
          O governo do presidente Lula não foi perfeito, poderia ter sido melhor em diversos aspectos. Mas no balanço geral, a opção pelos menos favorecidos foi determinante para que se inicie um processo de reequilíbrio social, que pode trazer para o país a médio prazo um aumento na qualidade de vida, na produção e consumo de bens e consequentemente mais empregos e renda, que por sua vez trará equilíbrio econômico, e na retomada do desenvolvimento de ciência e tecnologia; coisa que não foi antes realizada neste país. E, ao invés de observar a valorização dessas conquistas, o que se percebe é um ranço de preconceito e desdém de uma parte da população.         
          Analiso o discurso da classe média paulista, da qual faço parte aliás, como amedrontada pelo perigo de encontrar a sua doméstica na mesma loja em que compra no shopping... Ou por não ter quem contratar sem carteira assinada alguém prá fazer aqueles serviços que não são tão bonitos e que não se quer fazer...
           Sempre crítico, o grande escritor Monteiro Lobato era um observador dos principais problemas sociais do país, e já por aqueles tempos percebia a importância de se interferir em questões estruturais  mais amplas, como pode se observar nessa frase:
                   Todos os nossos males, econômicos, financeiros e morais, (...) provêm de uma causa única: pobreza, anemia econômica. Vou além: miséria. Obs.: Carta a Alarico Silveira, Nova York, 3/5/1928.
          Se Lobato tivesse conhecido Lula, não estaria orgulhoso por observar as opções da política atual? Penso que sim. Em outra ocasião, ao manifestar sua opinião sobre a necessidade de ampliar a alfabetização a todos os brasileiros a um grande veículo paulista, ele foi interpelado por um jornalista que soltou essa pérola: -Meu caro Lobato, se todos forem alfabetizados, quem irá querer pegar no cabo da enxada?           
           Esse é reflexo do pensamento da classe dominante, rica, ilustrada desse país, que não quer perder seus privilégios, confortos e boquinhas...
          Com todo o respeito à diversidade de opiniões, percebo que as análises e manifestações contra esse atual governo e o eleito, são carregadas de pouca informação, leituras de revistas e jornais tendenciosos, visões superficiais e de pouca abrangência.
          Vamos combinar: todos aqui pelo sul reclamavam da grande imigração, da falta de empregos prá tanta gente, da 'deseducação' de quem vinha tentar a vida no sul. Já ouvi frases como 'Nordestinos são moles, indolentes'... 'Esses caras não querem trabalhar' etc. o que, diga-se, é uma grande mentira. De uns anos prá cá não tem mais acontecido grande movimentação migratória, por que será? Teremos que importar mão de obra?? Ou iremos pagar bem???
           E se o nordeste prosperar, será que os industriais e grandes comerciantes não se beneficiarão? E se a economia se equilibrar, não será bom para todos? Ah, mas como irei perder minha hegemonia de classe dominante ??  Ora, meu empregado também trocará de carro todo ano??? Mas puxa, até o porteiro do prédio tem orkut...E terá até aplicação financeira??? Nossa... 
           Panfletária ou não, minha opinião é a de que possamos melhorar essa forma de pensar. De conversas informais no dia a dia a ações educativas planejadas, é necessário o cultivo do livre pensar, o estímulo à reflexão e à comparação de opiniões, rejeitando a parcialidade, o preconceito e o dogmatismo. E espero contribuir para isso nos próximos anos.
           Parabéns mulher. Parabéns Brasil. E vamos à luta.

2 comentários:

pedro geraldo disse...

Tânia

nunca tive a menor dúvida do preconceito brasileiro. sobre pobres e pretos, aleijados, escolaridades,migrantes, remediados o escambau.
escondido pela tese de cordialidade e bondade, vamos varrendo para debaixo do tapete mais essa sujeira.
mas sempre que pode ela vem à luz. é covarde. porque pega o cidadão inserido num contexto do qual não querem que ele faça parte.
o brasileiro em sua grande maioria, sem educação cidadã, pena mais em si, nos eu grupo, do que para a coletivo Brasil.
e infelizmente nunca vi a tal luz no fim do tunel.

embora aé torcer pelo Brasil e pela nova governante
ou para que surjam abnegados querendo mudar essa triste história.

escreva mais. escreva sempre.


beijos

Pedro Geraldo

iendiS disse...

Olá, Tânia, tudo bem? Quanto tempo, hein? Fiquei de escrever e demorei todo esse tempo.
Belo texto, muito preciso e equilibrado.
Como tive oportunidade de escrever, depois do operário veio a mulher. Isso tem um peso simbólico no Brasil, que, talvez, ainda não tenhamos condições de estimar. Os historiadores no futuro, devidamente distanciados, talvez terão como compreender melhor esse momento. Tomara que a gente veja esse tempo chegar.
Beijão para você e o Amaral.